segunda-feira, 25 de maio de 2009

Adeus, amor

Esta é uma carta de despedida. Se estiveres a me ler, é porque finalmente não estamos mais juntos. Não, não é com raiva que me despeço, é porque sei que a nossa história é uma eterna hora de partida. Estamos sempre a dar tchau enxugando as lágrimas e a voltar dizendo que o trem atrasou. Mas se estiveres a me ler é porque dessa vez ele saiu na hora marcada. Sei que pareço confusa – sempre me pedistes clareza – mas é tão difícil dizer adeus contigo ainda ao meu lado. Hoje mesmo estivemos juntos. Talvez estejamos amanhã, e depois, e depois. Talvez anos. Talvez nem mais um dia. Mas previno minhas frases com letras fortes para que resistam ao amarelado do tempo... (A verdade é que cada palavra me sai indecisa, pois não sei até que ponto desejam ser lidas). Tantas vezes encostei a cabeça no travesseiro e tracei nossos planos. Tantas vezes estive prestes a contar tudo isso, a ligar, a pedir que ficasses, a falar da saudade, a dizer eu te amo. Tantas vezes quis dizer vai embora, pedir que não voltes, mandar que me esqueças. Tantas vezes, amor, tantas vezes. E agora? O que será de nós quando tu leres esta carta? O que acontecerá às nossas lembranças? O que se dará aos nossos momentos? Para onde irá aquela intimidade sentida em um longo abraço silencioso? É difícil perder. É difícil ir embora, sobretudo quando se quer ficar. Nunca entenderei o que falta em nós dois, nunca entenderei porque pouco a pouco vou fazendo minhas malas e tu só fazes olhar calado. Vou tirando das gavetas os meus sonhos e dobrando, doloridamente, um a um; adiando em cada segundo a hora da partida. Mas é preciso partir. Meu destino é o futuro, sigo rumo ao inesperado. Sairei da cidade, vou achar o que perdi de mim. Então, amor, até quando o acaso decidir reencontrar nossos olhares. Caminharei lentamente, preenchida por uma paz sofrida, e marcando a estrada com minhas lágrimas. Seguirei a passos firmes, decidida a não olhar para trás, porque sei que não virás pedir para que eu fique. Sei que tudo que farás é somente olhar nostálgico para fotografias. Eis o fim desse nosso amor infindável. Quanto a ti, espero que um dia experimentes a delícia de seres livre para amar como eu te amei.
Adeus, adeus, amor
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terça-feira, 19 de maio de 2009

A uma Estrela Suicida


Sofro de uma enfermidade virulenta que me abarcou a alma. Não há cura. Nem os melhores médicos souberam tratar espécie tão rara. É-me incerta a idade em que padeci, talvez já desde nascida carregue na mente essa sina de enferma. Não é do corpo que sofro. Não são em tumores que se manifestam as minhas chagas. Eu padeço do espírito. Não há vacina para a vida, não há remédios que previnam as dores do viver. Mas não, não são tristes, são alegres os meus versos! É com alegria que hoje choro. Sofrer é condição da existência. E como é delicioso poder dizer aos prantos: eu existo. Ah, eu existo...! Sei que em momentos me desesperei, pedi clemência, recorri aos céus para que tirassem do meu peito essa dor inextinguível. Mostraram-me a mais linda melodia, mostraram-me o céu, o mar, as flores, as cores. Recitaram-me a mais lírica poesia. Mas não há cura. Não há como tirar de mim esse melancólico tom cinzento. Levo nos ombros as agruras de algo maior, profundo e absolutamente inexplicável. Foi preciso me entregar ao sofrimento por inteira, para entender que ele faz parte de mim. Sofri, chorei, cai em qualquer lugar do chão e lá permaneci durante horas. Soluçando, encolhida como uma criança, uma órfã que não tem a quem pedir colo, que se vê no mundo sem algum lugar para ir ou para voltar. Chorei, chorei, chorei... E adormeci sem entender por que ou o que dói tanto. Acordei, reparei-me no espelho e me vi igualzinha ao que sempre fui. Exceto meus olhos. Eles tinham qualquer coisa de velhos, de sábios. Então entendi: estava, finalmente, em comunhão com a dor. Não há cura. Ela faz parte de mim. Hoje colho flores, sinto as melodias, festejo o mar, aprecio os versos. E naqueles dias de inverno demoro-me fitando o céu, distinguindo no cinza os mais tênues tons da aurora. Porque os meus olhos... Os meus olhos ainda têm qualquer coisa de velhos.
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